Crónica sobre a passagem do Ciclone Gombe
- 30/03/2022
- By Admin: Cáritas – Desenvolvimento e Ajuda Fraterna
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O Ciclone Gombe entrou em Moçambique no dia 11 de Março. O ponto de entrada foi Mossuril, na nossa Diocese. Dados oficiais do 27 de Março, falam de mais de 642.000 pessoas afectadas e 53 óbitos na província de Nampula.
Os leigos combonianos Regimar Costa e Bartłomiej Tumiłowicz partilharam connosco a vivência nos dias posteriores ao ciclone, na comunidade de Carapira, no Distrito de Monapo.
Apesar do ciclone ainda durar, a manhã passou calmamente. De repente, o padre Jaider visivelmente abalado veio correndo, dizendo: “Muitos prédios estão em ruínas, muitas casas estão no chão. Há muitas mulheres com crianças pequenas na igreja. Eles estão tremendo de frio. Eles precisam de roupas secas. Temos que ajudá-los! Temos que encontrar um abrigo para eles.
Corremos para nossos quartos para procurar roupas quentes. Um par de jaquetas, moletons, calças, camisetas. Viemos para a missão com as malas cheias, a oportunidade surgiu muito rapidamente para partilhar com os mais necessitados. Com sacos cheios de roupas, corremos para o templo. Pessoas encharcadas batendo os dentes de frio, os pequeninos tremendo de frio. Olhei para dentro. A água jorrava dos buracos no teto, o telhado caindo, não podiamos ficar lá, não podiam se refugiar no prédio da igreja…
Separamos as mulheres e as crianças pequenas e corremos com elas para o centro comunitário. Havia água em todas as salas , mas em uma delas não estava chovendo tanto. Doamos nossas roupas, mães embrulhavam as crianças em nossos casacos, moletons, jaquetas… O tempo todo ouvíamos o som aterrorizante de chapas sendo dobradas e arrancadas pela força do vento. O medo estava presente em cada olhar.
Este centro tornou-se um abrigo temporário para os mais desfavorecidos. Com muito esforço e despesa financeira, conseguimos reparar o telhado do restante das salas. Conseguimos vinte esteiras emprestadas para que pudessem dormir. Com a ajuda dos padres do Verbo Divino conseguimos organizar duas refeições quentes por dia. Este não é o fim. Distribuímos lonas para reparo dos telhados das casas graças ao trabalho das Caritas. Intermediamos a distribuição de kits de uma refeicao pronta por parte da ajuda governamental.
Nesse contexto de tristeza e dor, Deus nos deu forças para organizarmos momentos de oração com todos afetados e brincadeiras com as crianças.
Visitamos algumas familias que acolheram em suas casas muitos atingidos.O número de mortos relativamente baixo é resultado de avisos meteorológicos anteriores. Nas casas simples, construídas principalmente de barro e madeira de baixa qualidade, ninguém dormiu naquela noite. A partir das 21h não havia eletricidade e sentia-se um vento forte, que ficou mais forte às duas da manhã. Foi na escuridão completa que os telhados foram arrancados, as paredes desmoronaram e as pessoas procuraram abrigo aterrorizadas. Aqui em Carapira, apenas algumas das construções mais sólidas sobreviveram.
Os metereologistas observaram que a força do vento era de 190 km/h e que caía chuva forte, correspondendo a uma camada de água de 20 cm. A água penetrava pelas frestas das portas, janelas e teto também em nossos quartos e em outras partes da casa, nossa cozinha perdeu parte do telhado e chovia dentro tanto quanto fora. A tempestade danificou grande parte das plantações de milho, mandioca, amendoim e feijão. Rendimentos limitados podem causar fome, essa é uma de nossas preocupações.
Passado o momento mais crítico e ainda atendendo as necessidades básicas, buscamos conhecer num contexto geral a situação de toda paroquia que é composta por 93 comunidades, para juntos descobrirmos a mais eficaz forma de trabalharmos e reconstruirmos juntos os danos causados pelo ciclone.
Confiamos em Deus e continuamos trabalhando.